segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Livro de flores

Toda sexta-feira (ou quase toda) era dia de brinquedo. Na verdade, acho que só uma sexta-feira por mês. É, devia ser uma por mês porque eu lembro de ser um dia especial, devia ser raro. Naquela vez eu tinha ganhado um livro do meu pai sobre flores, um livro duro com ilustrações em papel transparente mostrando as pétalas, as sementes, os bichinhos que ficam em flores. Eu tinha adorado o livro, mas eu gostava mesmo era de brincar de boneca. Fui pegar as bonecas na prateleira para levar para o dia do brinquedo quando o meu pai perguntou: "vai levar o seu livrinho novo?". Eu não ia levar, ia pegar minhas bonecas cor de rosa, mas algo me fez ficar com não sei que tipo de sentimento: pena, gratidão, carinho. Levei o livro. Ele sorriu, mas eu tenho certeza que nem se deu conta a importância daquele meu gesto. Cheguei na escola um pouco nervosa, as aulas foram todas meio difíceis, mas eu sobrevivi até a hora do recreio. E então, na hora do recreio, eu mergulhei em profunda tristeza: as meninas se juntaram todas numa rodinha com as suas bonecas e brincaram. Eu fiquei do outro lado, sentada na escada com meu livro de flores, só olhando.

Nenhum comentário:

eu ajunto a coragem

eu só quero o que desejo porque  há o seu abraço o seu tempero o seu tempo, temperamento  há tempos eu percebo  minha vida, meu sossego  bem...